O termo catarata refere-se à opacificação do cristalino, ou seja, à perda de transparência adquirida ou congénita da cápsula ou do seu núcleo. Nos casos mais frequentes, a opacificação, ocorre geralmente, de forma gradual relacionando-se, com processos de envelhecimento. Este processo é o resultado de mudanças biológicas e bioquímicas que ocorrem nas fibras do cristalino.
O cristalino funciona como uma lente natural do olho e é responsável pela focagem dos raios de luz na retina. É uma estrutura biconvexa e transparente que se situa diretamente atrás da íris, ligado ao corpo ciliar por ligamentos denominados de zónulas, formadas por inúmeras fibrilhas. O cristalino pode ser dividido em três camadas: cápsula, córtex e núcleo.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), as cataratas são a principal causa de cegueira reversível a nível mundial, e a segunda principal causa de baixa visão.
A catarata pode classificar-se de acordo com a sua morfologia em três tipos:
Podemos ainda caracterizar a catarata em quatro grandes tipos de acordo com a etiologia:
A alteração da função visual depende do tipo de catarata e da sua gravidade. Os sinais e sintomas da catarata, por norma, evoluem de forma progressiva com velocidade variável e tendem a acentuar-se nas fases mais avançadas. Atualmente, não existe forma de interromper ou prever a evolução da catarata.
Os sinais/sintomas mais frequentes são:
Na catarata nuclear existe uma miopia induzida, provocada por alteração de refração, devido à opacidade central, mais frequente. Por norma a visão de longe piora, mas em alguns pacientes presbíopes (que têm dificuldade de leitura) a visão de perto pode melhorar temporariamente.
Nas cataratas corticais e subcapsulares, os sintomas podem ser mais ligeiros e passar despercebidos, uma vez que a perda de acuidade visual não é tão notória e a queixa mais comum está relacionada com perda de sensibilidade ao contraste. Os achados do exame objetivo realizado pelo oftalmologista são sempre relacionados com os sintomas subjetivos do doente.
A catarata tem vários fatores de risco para além da idade, tais como o tabagismo, o consumo de álcool, a exposição à luz solar, a Diabetes Mellitus, ou o uso continuo de corticoides. Atualmente não existe nenhum método eficaz e comprovado de prevenção para a catarata, sendo a cirurgia o único tratamento definitivo.
Como o quadro clínico que a catarata apresenta ser muito vasto, o diagnóstico terá que ser realizado por um médico oftalmologista, com base na realização de alguns exames. Entre eles destacamos a observação pelo médico oftalmologista ao bio microscópio e a acuidade visual e a visão de contraste. A biometria, a microscopia especular, a topografia e o OCT são exames que ajudam na escolha do plano cirúrgico e, também, no encontrar de situações que possam sobrepor-se, pondo em causa o resultado final da cirurgia.
Operar a catarata é atualmente a única solução, para a recuperação da visão perdida.
A microcirurgia da catarata, com auxílio do laser femtosegundo e da facoemulsificação e introdução de lente intraocular é uma cirurgia muito eficaz, de baixo risco e raras complicações, na mão de um cirurgião experiente e com ótimos resultados.
Os bons resultados exigem uma preparação cuidadosa no que respeita à avaliação dos parâmetros do olho, para uma escolha correta da lente a implantar. Também a procura de patologias associadas que possam pôr em causa o resultado visual não é de somenos importância.
A lente a implantar pode ser fundamentalmente de três tipos, monofocal, foco estendido (EDOF) ou multifocal.
No primeiro caso o doente fica a ver bem ao longe, mas vai sempre necessitar de óculos de perto par a leitura.
No segundo a visão de longe é também corrigida e adicionalmente a visão intermedia.
A lente multifocal permitirá uma total independência dos óculos.
Todas têm vantagens e algumas desvantagens, por isso o mais adequado será sempre discutir o assunto durante a consulta.
Uma vez realizada a observação e diagnóstico, o oftalmologista, após o consenso quanto ao tipo de lente a implantar, vai pedir vários exames naquele sentido.
A topografia da córnea permite avaliar o grau de astigmatismo e a necessidade de implantar uma lente que o possa corrigir (lente tórica). Permite também verificar a existência de irregularidades na córnea, a sua curvatura e o tamanho da câmara anterior (isto é o espaço entre a face posterior da córnea e a face anterior das iris e do cristalino) assim com o ângulo entre a córnea a raiz da iris. E ainda o tipo de aberrações cromáticas existentes.
A microscopia especular que serve para avaliar o estado do endotélio. A fina camada de células da face posterior da córnea muito importantes para manter a transparência da mesma. Avalia o número e morfologia das células.
A biometria que permite avaliar o comprimento (axial) do olho para o cálculo da potência em dioptrias da lente intraocular.
O OCT que permite avaliar o estado da retina. O que mais interessa na cirurgia da catarata é avaliar a mácula, uma pequena zona central da retina onde se forma a imagem e as alterações que possam existir, geralmente de carácter degenerativo.
O tratamento da catarata é cirúrgico e apresenta uma elevada taxa de sucesso.
O procedimento cirúrgico de eleição é a cirurgia de catarata por facoemulsificação do cristalino e implante de lente intraocular, que pode ser assistida com laser femtosegundo.
Apesar do implante da lente intraocular ter como finalidade a substituição do cristalino e eliminação da opacificação existente, esta pode também corrigir erros refrativos (astigmatismo, hipermetropia e miopia) previamente existentes, mediante o tipo de lente implantada.
Chegado o dia da cirurgia o olho a operar é dilatado, isto é, são colocadas gotas para dilatar a pupila através da qual possível chegar ao cristalino opacificado.
São colocadas gotas anestésicas para adormecer a superfície do olho.
De seguida e já na sala o paciente deita-se na mesa operatória. Comandado pelo médico o laser de femtosegundo realiza abertura circular da cápsula do cristalino e também a divisão do próprio cristalino em pequenos pedaços. Faz ainda as incisões corneanas com precisão.
Anteriormente todos estes passos eram realizados pelo cirurgião, manualmente. Uma das vantagens do laser de fentosegundo, é a abertura circular da cápsula ser centrada no eixo visual, o que permite uma centragem ideal da lente intraocular. A divisão do núcleo permite uma aspiração breve dos restos, usando energia mínima de facoemulsificação, garantindo uma córnea transparente a seguir à cirurgia.
Finalmente é introduzida a lente e a incisão é hidratada, dispensando qualquer sutura.
O paciente segue então para sua vida, com algumas recomendações e a utilização diária temporária de colírios anti-inflamatórios e antibiótico, com a sua função visual recuperada.
A cirurgia não está isenta de complicações. Durante a cirurgia pode romper-se a cápsula fundamental para o implante correto da lente intraocular. Se o rompimento ocorre quando da extração da catarata, podem restos de material ficar no vítreo. Se ocorrer durante a introdução da lente esta pode cair também para o vítreo. Ambas as situações exigem uma vitrectomia para limpeza dos restos de catarata ou para conseguir retirar a lente intraocular. Ambos os casos se resolvem definitivamente sem outras complicações e com recuperação visual igual. São muito pouco frequentes e raras nas mãos doe nossos experientes cirurgiões. Uma situação, um pouco desagradável, pois atrasa a recuperação visual, é o edema da córnea, que subsiste por vezes durante alguns dias dificultando a visão.
Outro caso raríssimo hoje em dia com a técnica atual é a hemorragia expulsiva que como o nome indica acaba na maior parte das vezes na perda da visão desse olho.
Posteriormente à cirurgia ocorrem também ouras situações de baixa frequência, como o edema cistoide da mácula, caso em que a visão baixa pode por vezes durante semanas ou meses até resolução espontânea.
O descolamento posterior do vítreo que ocorre após a cirurgia pode ocasionar um buraco de retina que por sua vez pode causar um descolamento.
Um descolamento da coroideia também pode ocorrer, geralmente transitório.
Apesar das complicações possíveis a cirurgia tem uma taxa de recuperação visual de cerca de 98% sendo muito raras as complicações graves, que põem em causa o resultado final.