Foi-me diagnosticado Ceratocone. E agora, o que faço? - 1 1

Foi-me diagnosticado Ceratocone. E agora, o que faço? – 1

Este artigo reúne algumas perguntas e respostas sobre a patologia ceratocone para ajudá-lo a entender o que é, o que causa e como o seu oftalmologista na Clínica Privada de Oftalmologia (CPO) pode ajudar a estabilizar a sua doença e melhorar a sua visão.

O que é o ceratocone?     

O ceratocone é uma doença progressiva e não inflamatória que faz com que a córnea fique mais fina e mais curva, resultando numa córnea em forma de cone. Com o tempo, essa maior curvatura leva ao desenvolvimento de miopia e astigmatismo irregular (tipo de astigmatismo impossível de corrigir com óculos ou lentes de contacto), tornando-se a visão progressivamente mais baixa e com menor qualidade. O acompanhamento e tratamento contínuos são cruciais para evitar uma perda significativa de visão.

A córnea é uma espécie de vidro de relógio, transparente, parte das superfícies fundamentais do olho e responsável por focar a luz para que possa ver com qualidade. Protege ainda o olho da sujidade, germes e raios UV.

Em pessoas com ceratocone, a luz, ao atingir a córnea, sofre uma refração de maneiras diferentes, dependendo da parte da córnea com formato anómalo que a atravessa.

Como se faz o diagnóstico de ceratocone?

  • Inicialmente um técnico na CPO utiliza um aparelho chamado auto-refratómetro para rastrear eventuais patologias oculares;
  • O médico oftalmologista irá observar os olhos com um aparelho, a lâmpada de fenda, que envolve o lançamento de um feixe vertical de luz em cada olho, estando esta luz acoplada a um microscópio que permite avaliar com precisão cada camada do olho. Este exame avalia a forma da córnea e também pode detetar outros problemas oculares;
  • Caso exista suspeita de ceratocone, o médico oftalmologista solicitará uma série de exames aos técnicos na CPO. Os técnicos utilizarão o aparelho mais recente e preciso disponível (Pentacam) para efetuar um exame chamado topografia da córnea, que envolve a focagem de um círculo de luz na córnea e medição da reflexão da luz que permite construir diversos mapas das duas superfícies da córnea (anterior e posterior). É de salientar que este exame, baseado na tecnologia de imagem de Scheimpflug, permite a deteção precoce de ceratocones em casos subclínicos.

A necessidade de outros exames complementares de diagnóstico dependerá do julgamento clínico do oftalmologista que o observar, sendo feito caso-a-caso.

Quais são os sintomas habituais do ceratocone?

Na grande maioria dos casos, os pacientes não sabem que têm ceratocone, até porque é frequentemente, unilateral, pelo menos numa fase inicial. Geralmente, a doença manifesta-se durante a adolescência. Alguns dos sintomas a que deverá estar atento, no ceratocone, são os seguintes:

  • Dificuldade na visão noturna;
  • Visão desfocada;
  • Halos ou brilho ao redor das luzes;
  • Maior sensibilidade a luzes brilhantes;
  • Dores de cabeça ou irritação ocular associada a dor ocular;
  • Deterioração progressiva da visão que não é facilmente corrigível.

Se sentir algum destes sintomas, deverá marcar uma consulta especializada de ceratocone com um dos seguintes especialistas em córnea na CPO: Prof. Dr. Tiago Ferreira; Dra. Eunice Guerra; Dr. Samuel Alves e Dr. Bernardo Feijóo.

Como pode o ceratocone afetar o meu estilo de vida?

O ceratocone afeta consideravelmente a visão, o que pode degradar a sua qualidade de vida. Pessoas com esta doença podem ter dificuldade para trabalhar, ler, ver televisão ou conduzir. É também possível que a doença desencadeie ansiedade, diminua a autoconfiança e reduza a capacidade de participar em desportos coletivos.

Quais são os principais fatores de risco que causam o ceratocone?

  • Genética: Cerca de 1 em cada 10 pessoas com ceratocone também tem um membro da família com a doença.
  • Inflamação: Irritação e inflamação associadas a alergias, asma e outras doenças atópicas podem contribuir para o desenvolvimento de ceratocone.
  • Esfregar os olhos com frequência: A fricção intensa e frequente dos olhos pode tornar a córnea mais fina e curva e contribuindo para a progressão da doença.
  • Distúrbios subjacentes: O ceratocone está por vezes associado a doenças sistémicas, nomeadamente, síndroma de down, síndroma de Ehlers-Danlos, amaurose congênita de Leber, síndrome de Marfan ou osteogénese imperfeita.
  • Luz UV: A luz ultravioleta pode aumentar o stress oxidativo, condição fisiológica que contribui para enfraquecer as córneas em olhos já predispostos à doença.
  • Colagénio fraco: Num olho saudável, existem, existem fibras de colagénio que contribuem para manter a córnea com um formato normal (espécie de vidro de relógio), livre de outras protuberâncias. No caso do ceratocone, as fibras de colágeno tornam-se mais fracas e, portanto, não conseguem manter a forma normal da córnea, o que causa um aumento da sua curvatura.
  • Cirurgia da córnea: Em casos muito raros pode causar uma alteração no formato da córnea, em tudo idêntica ao ceratocone, chamada ectasia da córnea.

 Quais são os tratamentos disponíveis para o ceratocone?

Óculos e Lentes:

Nos estágios iniciais da doença, esta pode ser corrigida com óculos com lentes especiais. À medida que a condição progride para estágios leves ou moderados, aumentando o astigmatismo irregular, o tratamento de eleição são as lentes de contato, nomeadamente lentes rígidas permeáveis ​​a gás ou híbridas, ambas disponíveis na consulta de contactologia da CPO. Será encaminhado pelo seu oftalmologista caso considere adequado e após a sua primeira observação por um médico especialista em córnea. As lentes de contacto referidas têm uma rigidez própria e um diâmetro amplo, cobrindo toda a superfície da córnea, o que as torna eficazes e confortáveis ​​para pessoas com ceratocone. Todos estes tipos de lentes de contacto estão disponíveis na CPO e podem ser adaptadas ao seu caso.

No entanto, aproximadamente 20% dos pacientes com ceratocone avançado não conseguem tolerar ou melhorar a sua visão com lentes de contacto, sendo, eventualmente, necessário recorrer a procedimentos cirúrgicos para tratar a doença.

Crosslinking:

Quando existe uma progressão do ceratocone e caso a transparência da córnea seja suficiente para manter uma visão satisfatória, poderá ser proposto um tratamento chamado Crosslinking do Colagénio. Este procedimento tem como objetivo impedir a progressão da doença e consiste na aplicação de vitamina B2 e exposição da córnea a raios ultravioleta (UV), o que irá aumentar a resistência mecânica da córnea. Em termos técnicos, consiste no entrecruzamento das fibras de colagénio que compõem a córnea. Estas fibras são normalmente lineares e, neste processo, vão-se transformado numa espécie de “rede de segurança”, o que confere mais rigidez e resistência à córnea, num tratamento seguro e com elevada taxa de eficácia.

O crosslinking do colagénio corneano é feito com recurso a anestesia tópica (apenas com gotas de anestésico), sendo um procedimento totalmente indolor. Após o procedimento, a melhoria da visão, miopia, astigmatismo, redução da curvatura da córnea e consequentemente, melhoria da qualidade visual pode estender-se por 6 a 12 meses sendo que, nalguns casos, continua a verificar-se uma melhoria progressiva mesmo depois deste período inicial. A eficácia de um tratamento único pode rondar, em média, 95%.

Anéis Intra-Estromais

Em certas situações, será necessário recorrer a outro procedimento cirúrgico, caso a córnea mantenha a sua transparência e uma espessura adequada, o implante de segmentos de anel intra-estromais. Na CPO, estes segmentos são implantados recorrendo ao laser de femtosegundo. Os anéis são segmentos semicirculares, introduzidos em túneis feitos na espessura de uma das camadas da córnea (estroma). O objetivo desta cirurgia é de uniformizar a conformação da córnea, permitindo numa fase posterior, o uso de óculos, lentes de contacto ou o implante de uma lente intraocular fáquica (ICL), de forma a corrigir qualquer erro refrativo residual (miopia ou astigmatismo). Nestes casos, o laser de femtosegundo é, atualmente, um apoio essencial, dado que permite implantar, de forma precisa, o(s) segmento(os) de anel a uma profundidade exata ao longo de todo o seu trajeto, algo impossível numa cirurgia manual, sem recurso a este tipo de laser.

Nos casos mais avançados, graves ou em que a transparência não é suficiente, o transplante de córnea (queratoplastia) é a única opção de tratamento. Esta cirurgia, atualmente, recorrendo às técnicas mais avançadas, consiste no transplante apenas das camadas superficiais da córnea, de forma a preservar as mais profundas e saudáveis, reduzindo, assim, o risco de rejeição do transplante e aumentando a sua sobrevivência (anos em que o transplante se mantém transparente e funcional).

Posso ficar cego se tiver ceratocone?

Geralmente, a doença não causa cegueira total. No entanto, à medida que o ceratocone avança, pode causar uma deficiência visual progressiva, incluindo visão turva à distância, desfocagem, encadeamento, astigmatismo elevado, sensibilidade extrema à luz e até mesmo perda de visão que pode chegar, em casos extremos, a ser classificada como “cegueira legal”.

O ceratocone afeta os dois olhos?

Sim, em aproximadamente 90% a 95% dos casos de ceratocone, a doença manifesta-se em ambos os olhos. No entanto, a taxa de progressão e o momento do início da doença são diferentes para cada olho.

Caso queira pesquisar mais sobre esta patologia, considere a seguinte fonte: NCBI

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