Degenerescência Macular da Idade DMI – Perguntas e Respostas
Este artigo, elaborado pelo Dr. Pedro Neves, oftalmologista na CPO, serve para informar os leitores sobre esta patologia que requer especial atenção devido aos elevados riscos que apresenta para a visão dos pacientes se não for seguida e tratada por um professional.
O que é a degenerescência macular da idade DMI?
A degenerescência macular relacionada à idade, DMI, é uma doença ocular progressiva que afeta a mácula, a parte central da retina responsável por uma visão nítida e de detalhes finos. Com o tempo, a função macular pode se deteriorar, levando à perda de visão central, visão enevoada ou manchas cegas (denominadas de escotomas) no centro do campo visual. Este tipo de perda de visão, a cegueira macular, pode afetar atividades diárias como a leitura, a condução e reconhecimento facial.
É uma doença frequente?
Sim. De acordo com Organização Mundial da Saúde (OMS), a degenerescência macular relacionada à idade, DMI, é uma das principais causas de cegueira em todo o mundo. Estima-se que seja a terceira principal causa de cegueira global, afetando quase 196 milhões de pessoas (OMS, 2019). Em Portugal, estima-se que cerca de 400.000 pessoas apresentem alguma forma de DMI, sendo expectável que a prevalência aumente com o envelhecimento da população portuguesa.
Que subtipos de degenerescência macular relacionada à idade, DMI, existem?
Os dois principais tipos de degenerescência macular relacionada à idade, DMI, são a DMI seca e a DMI exsudativa/húmida. A DMI seca é a forma mais comum e progride lentamente, podendo evoluir para zonas bem delimitadas de perda de função das células da retina – a atrofia. A DMI exsudativa é menos comum, mas mais grave e progride rapidamente. A DMI exsudativa ocorre quando novos vasos sanguíneos crescem sob a retina e libertam fluido ou sangue, causando dano permanente nas células fotorreceptoras da mácula.
Quais os sintomas que podem aparecer na DMI?
Doentes com degenerescência macular relacionada à idade, DMI, podem desenvolver os seguintes sintomas:
- Visão central turva
- Diminuição na capacidade de ver detalhes finos e contornos
- Dificuldade em reconhecer caras
- Linhas retas distorcidas ou onduladas
- Uma área escura ou vazia no centro da visão
- A necessidade de mais luz ao ler ou fazer trabalhos de perto
- Alteração da visão das cores na visão central
É importante destacar que os sintomas podem ser subtis no início, particularmente se o outro olho tiver uma boa visão. Por essa razão, os exames realizados na consulta de Oftalmologia podem ajudar a detetar a DMI precocemente e permitir um tratamento atempado.
Qual o principal fator de risco para a DMI?
Como o próprio nome indica, o principal fator de risco da degenerescência macular relacionada à idade, DMI, é a idade. Quanto maior a idade, maior o risco de desenvolver alguma forma de DMI. A prevalência da DMI aumenta de 4,2% nas pessoas com idade entre 45 e 49 anos, para 27,2% nas pessoas com idade entre 80 e 85 anos. O risco de desenvolver formas mais graves também aumenta com a idade.
A história familiar é um fator de risco para a DMI?
Sim, ter uma história familiar de degenerescência macular relacionada à idade (DMI) é um dos fatores de risco para desenvolver a doença.
Há mais algum fator de risco para a DMI?
Sim. Alguns fatores de risco descritos na literatura são:
- Hábitos tabágicos: fumadores apresentam até 3x maior risco de DMI
- Etnia: maior risco em caucasianos e pessoas com olhos claros
- Dieta: dietas pobres em fruta/vegetais e ricas em gordura/colesterol apresentam maior risco
- História de doença cardiovascular e/ou obesidade
- Exposição solar: raios UV associados a maior risco
De referir que a presença ou ausência de fatores de risco não garante nem exclui a possibilidade de desenvolver DMI. Sendo uma doença multifatorial, é natural que fatores ainda desconhecidos sejam determinantes nesta patologia.
Como posso prevenir a degenerescência macular relacionada à idade, DMI?
Atualmente não existe uma forma garantida de prevenir a degenerescência macular relacionada à idade, DMI. A intervenção sobre os fatores de risco acima referidos pode diminuir o risco geral de aparecimento da doença – prevenção primária. É possível, no entanto, melhorar o prognóstico e as sequelas procurando ter o diagnóstico mais atempado possível e aceder a tratamentos precocemente – prevenções secundária/terciária. Para tal, é importante compreender a DMI e os seus sintomas e realizar exames oftalmológicos regulares.
Existem tratamentos para a DMI seca?
Atualmente, não há cura para a DMI seca, sendo este campo alvo de intensa investigação farmacêutica. O recurso a alguns suplementos nutricionais formulados em ensaios clínicos permite uma redução do risco de progressão para formas graves da doença. Alguns medicamentes encontram-se a realizar ensaios clínicos com resultados disponíveis nos próximos anos.
Existem tratamentos para a DMI exsudativa?
Sim. Existem tratamentos que são eficazes para o tratamento da forma exsudativa da DMI:
Em qualquer das modalidades de tratamento, o objetivo é reduzir a atividade dos vasos anómalos na retina e a consequente libertação de líquido. É importante iniciar o tratamento rapidamente, uma vez que a perda de visão pode ser mais acentuada se a doença for deixada sem tratamento.
Como funcionam as injeções oculares para o tratamento da DMI exsudativa?
As injeções oculares para tratar a degenerescência macular relacionada à idade, DMI, são denominadas injeções intravítreas de anti-VEGF. Trata-se de uma injeção dentro do gel vítreo do olho de um anticorpo desenhado para bloquear a molécula VEGF – uma molécula produzida pelos vasos anormais que se desenvolvem na retina. O bloqueio desta molécula, por um lado inibe a libertação de líquido/sangue por estes vasos, por outro impede ou inverte a progressão destas lesões vasculares.
Quais os regimes de tratamento? Quando termina?
A DMI exsudativa não tem, infelizmente, tratamento curativo final. Por essa razão, quando é conseguida a melhoria e estabilidade da doença, o desafio seguinte é procurar manter o melhor resultado possível com o mínimo de injeções, sabendo que a necessidade de tratamento é contínua. Os regimes de tratamento são individualizados, podendo ser adaptados às características da doença e do doente.
- Início do tratamento – dose de carga de injeções mensais fixas
- Fase de manutenção – regime que pode ser um dos seguintes:
- Regimes fixos: tratamentos mensais/bimensais ou outra periodicidade, independentemente da atividade da doença;
- Regimes reativos pro re nata: tratamentos realizados apenas quando se verifica reativação da doença;
- Regimes “tratar e estender”: tratamentos periódicos que, de acordo com a atividade da doença, vão sendo realizados em intervalos cada vez maiores.
Há vantagens e desvantagens em cada um dos regimes, devendo tal ser discutido com o médico oftalmologista para melhor esclarecimento.
Como é a técnica cirúrgica? É dolorosa? Que cuidados devo ter após a injeção?
A administração é feita sob anestesia local, da mesma forma que a maioria das cirurgias de catarata, por exemplo. Antes da injeção, é realizada a desinfeção da pele e do olho. Após a colocação de um especulo para ajudar a manter o olho aberto, é realizada a injeção na pars plana (região da parede do olho onde é seguro realizar injeções). Para a maioria dos doentes, o processo é rápido e apenas ocorre desconforto ligeiro nas horas seguintes. O uso de colírios antibióticos não é recomendando atualmente, mas o recurso a lubrificantes para conforto é encorajado. Apesar de poder ocorrer algum desconforto no dia da injeção, a maior parte dos doentes retoma a sua vida normal e sem restrições no dia seguinte ao procedimento.
Existe algum risco de realizar injeções intravítreas?
Sim. As injeções intravítreas são procedimentos rápidos e seguros, mas invasivos, razão pela qual são realizados apenas por médico oftalmologista e em condições de segurança – habitualmente em bloco operatório. À semelhança de qualquer procedimento ocular, os riscos incluem a possibilidade de infeção, lesão da retina ou hemorragia ocular.
Há alguma cirurgia para tratar a DMI permanentemente?
Como tratamento direto da degenerescência macular relacionada à idade, DMI, a resposta é não. Nenhum ensaio clínico demonstrou bons resultados nas abordagens cirúrgicas invasivas. Raramente, a DMI exsudativa pode causar hemorragias graves na retina ou no interior do olho, que poderão necessitar de cirurgia.
Por outro lado, a cirurgia de catarata continua a estar indicada após avaliar o risco-benefício da intervenção, de forma a preservar a restante visão central e visão periférica. Em candidatos, pode ainda ser realizado o implante intraocular de ampliação macular para auxiliar a leitura em doentes com DMI.
A DMI causa cegueira total?
Não, a degenerescência macular relacionada à idade, DMI, raramente causa cegueira total, entendida como a perda de toda e qualquer visão central ou periférica. No entanto, pode causar perda significativa de visão central, denominada cegueira macular o que pode tornar difícil atividades como a leitura ou a condução. Habitualmente a visão periférica, que permite a orientação no espaço e parte das atividades de vida diária, está preservada.
Há alguma forma de eu vigiar o aparecimento de sintomas em casa?
Sim. A forma mais simples de realizar um auto-exame é usar a grelha de Amsler. A grelha de Amsler permite detetar sintomas ligeiros, sendo o exame realizado a cada olho isoladamente. Um doente que desenvolve uma doença da retina, um dos sintomas que poderá notar é a distorção nas linhas ou falha de algum detalhe no quadriculado.
Grelha de Amsler – Versão Portuguesa
Um exame alterado na grelha de Amsler dificilmente é provocado por problemas refrativos (ex: óculos desatualizados) ou cataratas, devendo sempre motivar um exame completo por oftalmologista.
Qual é a importância de um exame ocular por um oftalmologista neste contexto?
Exames regulares de oftalmologia são cruciais para detectar precocemente a DMI e monitorar sua evolução. A deteção precoce permite um tratamento mais eficaz e pode retardar ou mesmo impedir a progressão da doença, preservando sua visão. O oftalmologista pode prescrever exames, como a retinografia ou o OCT (tomografia de coerência óptica) que permitem diagnosticar e estadiar a doença, assim como a sua progressão.
Tenho perda parcial da visão central. Como posso tentar melhorar a minha capacidade de leitura?
A capacidade de leitura pode ser auxiliada com uma ou várias das seguintes opções, entre outras:
- Lupas de aumento: lupas portáteis iluminadas ou fixas
- Dispositivos de ampliação digitais
- Dispositivos eletrónicos de leitura com texto ampliável (zoom)
- Dispositivos de leitura com conversão texto-para-voz
- Cirurgia de implante de lentes de ampliação macular
Importante referir que qualquer destas opções significa uma adaptação a uma incapacidade instalada, necessitando de aprendizagem e motivação da parte do doente.
Caso tenha sido diagnosticado com degenerescência macular relacionada à idade, DMI, ou tenha sintomas relacionados com os mencionados neste artigo, marque a sua consulta na CPO – Clínica Privada de Oftalmologia através do 213105650.
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